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Recentemente, voltou a circular na internet um mapa de autoria de Jordan Engel publicado pelo blog The decolonial atlas (O Atlas Descolonial) há alguns anos, que representa a Ñembyamérika, ou América do Sul, na língua indígena guarani, falada por mais de quatro milhões de pessoas no Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia, nações que foram construídas a partir da colonização dos povos originais pelas potências ibéricas: Espanha e Portugal. Foram os colonizadores que nomearam muitas localidades nesses países, de acordo com sua cultura indígena.

 

Sabemos que a elaboração de mapas, enquanto representação do mundo, jamais foi neutra; mas, antes, reproduz situações de dominação. É frequente a relação entre o eurocentrismo e a divulgação de mapas-múndi que valorizam os países centrais e minimizam os países do sul.

O mapa da América do Sul em guarani

A representação cartográfica em outra maneira de enxergar o contexto do mundo globalizado

 

O objetivo do mapa, de acordo com os responsáveis pelo blog, é lembrar que o guarani também é tão importante quanto as línguas portuguesa, espanhola etc. Daí resgatar, por exemplo, as toponímias guaranis: o Brasil se torna Pindoráma, que remete à terra mítica dos povos tupis-guaranis; ou ainda a Volivia, Paraguái, Uruguái, Argentína; Peru; Chile; Ekuador; Venesuela; Kolomvia; Gujána; Surinam, banhados pelos Paraguasu Atlántiko e Paraguasu Py’Aguapy.

 

A América Invertida de Joaquín Torres García

A representação cartográfica também tem um viés ideológico. O simples exercício de inverter o norte e o sul remete, sem dúvida, ao desenho América invertida, feito pelo uruguaio Joaquín Torres García nos anos 1940, e que se tornou um grande símbolo da descolonização do conhecimento e da busca de uma identidade latino-americana, que estaria justamente presente na união dos povos originais.

 

“Nosso norte é o Sul. Não deve haver norte, para nós, senão por oposição ao nosso Sul. Por isso agora pomos o mapa ao revés, e então já temos a exata ideia de nossa posição, e não como querem no resto do mundo. A ponta da América, desde agora, prolongando-se, assinala insistentemente o Sul, nosso Norte”, escreveu o artista.

 

O exercício de pensar de uma forma diferente à nossa condição de povo latino-americano pode ir além. Alguns defendem, por exemplo, deixar de lado a expressão “nortear”, com o sentido de “orientar”, e preferir o neologismo “sulear“, como propôs o pesquisador Marcio D’Olne Campos, que é responsável pelo site sulear.com.br.

 

Da mesma forma que pode reproduzir discursos hegemônicos, a cartografia nos serve para apontar caminhos alternativos.

Fonte: CLICIDEIA. Artigo Original aqui

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