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Laudelina de Campos Melo, o terror da Casa Grande

Laudelina de campos Melo

Laudelina de campos Melo

Laudelina de Campos Melo é dessas figuras que o Brasil tentou silenciar — mas não conseguiu. Mulher negra, filha de ex-escravizados, trabalhadora doméstica desde os sete anos de idade. Ela cresceu entre as ruínas da abolição inacabada e transformou sua dor em estratégia, sua rotina em revolta, sua voz em organização política.

Foi o terror das patroas. Não por confrontar com fúria, mas por mostrar que a servidão não era destino. Por ensinar que a trabalhadora doméstica não é “de confiança”, ela é de luta. Ela é de autonomia. Ela é de projeto coletivo.

Aos doze anos, cuidava dos irmãos enquanto a mãe limpava casas. Ainda menina, entendeu que o trabalho das mulheres negras sustentava casas que não eram suas, famílias que nunca as reconheceriam como iguais. Entendeu cedo o que o Brasil insiste em negar: que a casa grande nunca acabou, apenas mudou de roupa e de tom.

Em 1936, fundou em Santos a primeira associação de trabalhadoras domésticas do Brasil. Um ato que, mais do que político, foi simbólico. Um resgate da dignidade em forma de reunião, de conversa, de curso, de reconhecimento mútuo. Era alfabetização, era orientação jurídica, era autocuidado. Era construir trincheiras dentro das cozinhas alheias.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Laudelina_de_Campos_Melo

A associação foi sufocada pelo Estado Novo, mas Laudelina não parou. Em 1961, em Campinas, fundou uma nova entidade, que se tornaria base para o futuro sindicalismo das trabalhadoras domésticas no país.

Ela também fazia cultura. Não como adorno, mas como ferramenta. Atuou no Teatro Experimental do Negro e organizou o Baile Pérola Negra, nos anos 1950, para afirmar a beleza das meninas negras quando ninguém ousava chamá-las de belas.

Fonte: https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2023/07/laudelina-de-campos-tem-nome-inscrito-no-livro-de-herois-e-heroinas-da-patria

Laudelina não cabia na imagem submissa que o Brasil esperava das domésticas. A patroa queria silêncio, Laudelina oferecia argumento. A patroa esperava agradecimento, Laudelina trazia exigência. E, no embate diário entre direitos negados e dignidade conquistada, ela costurou uma história que resiste até hoje.

Morreu em 1991. Só em 2023 foi reconhecida oficialmente no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A honraria demorou, mas não foi o reconhecimento que a fez grandiosa. Foi o chão que ela pisou, as mãos que apertou, os olhos que fez levantar.

Laudelina é ancestralidade que trabalha dobrado. É o corpo negro que não se curva. É o nome que ainda assusta quem nunca quis ver a empregada como cidadã.

Uma mulher tão Brasil.
Obrigada, Adelina.

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