Poemas de Roseana Murray

Poemas de Roseana Murray

Começaremos com o poema Milagre em homenagem ao próprio milagre vivido pela escritora

 

MILAGRE

Como numa colcha
de retalhos,
os dias e as noites
se costuram
e nos levam
em suas horas
secas ou caudalosas,
cavalos indomáveis.
Viver é o milagre
que nos guia.

 

Antes de mais nada de seguir com os outros poemas, vamos entender mais sobre Roseana e os últimos acontecimentos.

Quem foi, melhor, quem é Roseana Murray?
Roseana Murray, nascida em 1950 no Rio de Janeiro, é uma destacada figura da literatura brasileira. Formou-se em Literatura Francesa pela Aliança Francesa e pela Universidade de Nancy. Sua incursão no mundo literário teve início nos primeiros anos da década de 80, com a publicação de poesias infantis.

Com uma produtiva carreira como autora, Roseana publicou aproximadamente 100 obras e foi reconhecida com diversos prêmios de prestígio, incluindo os da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCA), da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Roseana também é uma voz ativa na comunidade literária internacional, como membro da Lista de Honra do Conselho Internacional sobre Literatura para Jovens (Ibby, sigla em inglês), organização que no Brasil é representada pela FNLIJ. Ela mantém uma presença vibrante nos saraus literários em vários estados, fortalecendo a cena cultural com sua poesia e engajamento.

Entre amigos, Roseana é conhecida por sua sensibilidade poética

Frequentemente recebendo em sua casa alunos de escolas públicas para sessões de contação de histórias na varanda, onde não faltam deliciosos quitutes. Este gesto de generosidade foi inclusive destacado por Elisa Lucinda em suas redes sociais.

Recentemente, Murray foi atacada por pitbulls e ficou em estado grave.
A autora Roseana Murray, aos 73 anos, foi gravemente ferida por três pitbulls em Saquarema, na Região dos Lagos. Em decorrência da severidade dos ataques, ela perdeu um braço e uma orelha, ficou internada no CTI e seu estado era grave.
Seis dias depois da internação, a escritora fez caminhadas no jardim do hospital e surpreendeu todos os médicos com sua recuperação.

Em estado constante de poesia: Roseana Murray usou suas redes sociais para se pronunciar 

“Ainda estou na CTI. Me lembro do mito de Cérbero, o cachorro de três cabeças que tomava conta da passagem dos recém- mortos para o outro mundo.

Eles eram ferozes e ninguém os vencia. Os três cachorros que me atacaram pareciam Cérbero, o cão de três cabeças prontos para me levar para a morte.

Não conseguiram. Estou viva, mas como no livro que lemos no Clube da Casa Amarela “Escute as Feras”, de Nastassja Martin, a história da mulher que foi atacada por um urso, lutou e venceu, e no final, é uma mulher meio humana meio ursa, eu também me sinto meio humana meio mulher selvagem, porque venci.

Agora já estou planejando um sarau de poesia aqui no Hospital Alberto Torres onde irei presentear cada um que cuidou de mim com um livro meu. Autografado com a mão esquerda. Este hospital é uma casa muito especial.

Ouço as histórias dos enfermeiros e enfermeiras, troco com eles as minhas histórias, trocamos galáxias de amor. Essa experiência de ser meio humana, meio selvagem, com a força adquirida de Cérbero, aumenta a minha responsabilidade em relação à vida e a tudo o que é belo. Meu filho Guga Murray está criando um movimento junto com a Alessandra Roscoe que recebe o nome de Ministério das Belezas Colaterais. Mesmo nos piores cenários há que buscar beleza. Esse é o nosso ofício. E a Paz acima de tudo.”

 

Os Poemas da escritora, como seus livros, podem ser acessados e adquiridos em seu site: https://roseanamurray.com

10 Poemas de Roseana Murray

POEMAS DO LIVRO A CASA DE TODOS OS NINHOS

A CASA DE TODOS OS NINHOS

Existe uma casa encantada
que abriga todos os ninhos,
é feita de sol e vento,
calor, areia e tempo.
Suas árvores se vestem
de espinhos, de ervas
com raízes gigantes
(maiores que elefantes),
e flores e cactos
que enfrentam
as tempestades, ondas
e redemoinhos.

A casa de todos os ninhos
agarra as areias das praias,
abraça as dunas e lagoas,
sobe e serpenteia
pelas terras firmes,
coberta de sal, brilh
a no sol quente
para proteger
o litoral.

BERÇO DE ESPINHOS

A restinga respinga
beleza
para todos os lados,
até para o canto
dos pássaros.

Ela protege os ninhos
dos sabiás e socós,
dos sacis e colibris,
dos gaviões e urubus,
das garças e periquitos,
com seus galhos,
seus espinhos,
seus esconderijos,
pois os ninhos são tesouros
mais preciosos que besouros!

OS PERFUMES DA CASA
Dia e noite, na restinga,
os perfumes de todas
as vidas, flores e frutas
e bichos,
misturados
aos cheiros da terra,
das lagoas, dos rios,
e da maresia,
se juntam, forram os ninhos,
ocupam cada recanto,
e voam
junto com os passarinhos.

A CASA DE TODOS OS NINHOS, Roseana Murray e Bia Hetzel

POEMAS DO LIVRO ATRÁS DE CADA COISA

Atrás do olhar da onça
um gato dança,
atrás do lagarto
um dinossauro
se espreguiça,
atrás do bicho preguiça
há sempre sono.

Atrás de algumas caixas
de fósforos
enfileiradas no chão,
tem a ideia de um trem.
Vai por aqui e por ali
Sobe e desce montanha,
lá de dentro os passageiros
dizem adeus.

Atrás da janela
tem praça, rua, cidade,
país,
tem gente, borboleta, passarinho,
tem pipa e sol,
e se é noite,
em algum lugar
do céu tem cometa.

 

ATRÁS DE CADA COISA, Roseana Murray
Ilustrações de Sandra Jávera

POEMAS DO LIVRO EMARANHADO

ILHAS PERDIDAS
Como recolher
com os olhos
a linha do horizonte
para remendar sonhos
estilhaçados?
Existem ilhas perdidas
onde o mal não entra.
Há que encontrá-las,
é urgente,
para que se possa desfiar
alguns versos,
o novelo do tempo.

RELOJOEIRO
Um relojoeiro
ajusta o tempo
nos relógios antigos
com suas pequenas
ferramentas.
E se pudesse consertar
o tempo gasto, lavado,
desbotado, rasgado,
desperdiçado?

FIRMAMENTO
Para acolher o firmamento
e seu silêncio,
perguntas sem resposta,
há que mergulhar
no vazio de dentro,
em seu claro-escuro,
seu chão sem fundo,
o nascimento de mundos.
Para construir com as teias
do indecifrável.

EMARANHADO, Roseana Murray, ilustrado por Silvana de Menezes

 

POEMAS DO LIVRO BALAIO DE FELICIDADES

CASA NO AR
Na praia ou na montanha,
na ilha ou no continente,
na cidade ou no campo
há um balaio de pequenas felicidade
prontas para o voo.
Basta afiar as asas
e o olhar.
Basta saber construir
uma casa no ar.

AOS PEDAÇOS
O menino vai comendo
a vida aos pedaços:
feijão com arroz,
o mar e seus segredos,
manteiga com pão,
o céu e suas estrelas,
tudo o que existe
no Universo
para a gente amar.

POEMAS DO LIVRO DE MALAS ABERTAS:

UMA CASA

Uma casa cabe
na mala?
Com seus quartos,
portas, janelas,
o vento que faz dançar
as cortinas,
com os silêncios
quebrados pelas vozes
amadas?