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Ailton Alves Lacerda Krenak é líder indígena, atuou na elaboração da constituição de 1988. Ambientalista e escritor brasileiro. Doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Grão-cruz da Ordem do Mérito Cultural.

Autor de “Ideias para adiar o fim do mundo” (Companhia das Letras) e um dos mais influentes defensores dos direitos indígenas. Texto “O amanhã não está à venda”, que aborda filosoficamente e sob a perspectiva da cosmologia krenak a pandemia do novo coronavírus enfrentada pela humanidade. O texto foi lançado em e-book gratuito neste sábado (18/04/2020), pela Companhia das Letras. Ambos podem ser baixados logo abaixo:

Baixe o E-book Ideias para adiar o fim do mundo
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Veja sobre Ailton Alves Lacerda Krenak

“O modo de funcionamento da humanidade entrou em crise”

“Faz algum tempo que nós na aldeia krenak já estávamos de luto pelo nosso Rio Doce. Não imaginava que o mundo nos traria esse outro luto. Está todo mundo parado. Quando engenheiros me disseram que iriam usar a tecnologia para recuperar o Rio Doce, perguntaram a minha opinião. Eu respondi: ‘A minha sugestão é muito difícil de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas as atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a 100 quilômetros nas margens direita e esquerda, até que ele voltasse a ter vida’. Então um deles me disse: ‘Mas isso é impossível, o mundo não pode parar.’ E o mundo parou.”

Uma vez Ailton Krenak pintou a cara de jenipapo, em plena Assembleia Nacional Constituinte, em setembro de 1987, estava produzindo uma imagem histórica, trazendo a luta dos povos indígenas pelos seus direitos no Brasil. “Sangrei dez anos por conta daquele gesto”, diz ele. “Aquele protesto não pode ser reproduzido, revisitado. Mesmo nos dias de hoje.” Difícil esquecer o contraste elegante de seu paletó branco e o rosto pintado de preto. Foi o ponto alto da vitoriosa campanha das mais de 300 etnias indígenas que vivem no Brasil pelo direito simples de existir. O feito, inédito, está inscrito na Constituição de 1988: o direito de existir como povo, cultura, território, modo de vida.

A Assembleia Nacional Constituinte ficou marcada pela defesa da Emenda Popular da União das Nações Indígenas. Foi no dia 04 de setembro de 1987, Krenak como porta-voz do emergente Movimento Indígena fez discurso histórico que logrou reverter a conjuntura política anti-indígena naquela legislatura do Congresso Nacional. O pronunciamento contundente de Krenak, com a presença de espírito do gesto de luto, foi ato decisivo para a aprovação dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988 pelos parlamentares constituintes.

 

Ailton Krenak abre o documentário “Guerras do Brasil” disponível na Netflix, criando assombro e estranhamento: o Brasil é uma invenção, não houve um evento de fundação como nos ensinou a história oficial com a chegada da esquadra portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral em 22 de abril de 1500 registrado como a Descoberta do Brasil. Era habitado por nações indígenas que aqui estavam a milhares de anos, ocupando terra de dimensões continentais. Os guarani, por exemplo, no dizer dele, descidos dos Andes, tinham consciência de sua identidade cultural há três ou quatro mil anos.

 

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