Movimento cinematográfico espanhol La Movida Madrilena
Após 40 anos de ditadura, a Espanha quebrou as correntes e pode abrir os braços para a arte com mais liberdade e autonomia. Foram anos de proibições, repressão, ausência de direitos e limitações artísticas, de modo que a vida cultural de todos era controlada pelo Franquismo(movimento que ocorreu durante a guerra civil Espanhola, liderada pelo ditador Francisco Franco). Durante o regime do Franquismo, a repressão ganhou vida, da qual a arte era tão limitada, que os diretores de cinema não tinham liberdade em abordar temas que não fossem a guerra. Mas os jovens queriam o direito de escolha, viver a vida sem preocupações e com liberdade; então, com o fim da ditadura de Franco, após a sua morte, isso foi possível.
O povo iniciou seu grito de liberdade com manifestações artísticas e contra culturais. Eis que entrou em cena, então, La Movida Madrileña, transição espanhola que teve início no final anos 1970 e durou até meados dos anos 1980. Durante o movimento, aquilo que era proibido se tornou acessível, e a liberdade de expressão foi um prazeroso e inevitável caminho.
“La Movida“, para os chegados, foi uma explosão de cor, quebra de tabus, liberdade e irreverência em um país de um povo que entrava numa fase de autoconhecimento pós-guerra. Este cenário sofreu fortes influências em diversos ramos artísticos, dentre os quais destacam-se as artes visuais, com a dupla de pintores Costus, que tinham um estilo que comparável a fotografias solarizadas; a música, com a banda Alaska; e o cinema, com o diretor Pedro Almodóvar.
Almodóvar teve um papel ativo e fundamental para esse movimento de diversas formas. O cineasta escrevia periodicamente para revistas e jornais – nesta época, criou Patty Diphusa, uma atriz pornô e estrela internacional que publicava crônicas sobre sua vida –, cantava e atuava com o grupo de teatro Los Goliardos, e ainda dirigia seus curtas. Neste período, deu vida também a seu primeiro filme comercial, Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão (1980), diretamente ligado ao movimento.
Rodado aos finais de semana, em sistema de cooperativa – ou seja, ninguém cobrava salários, pois todos estavam interessados em participar do filme –, o longa foi financiado, em grande parte, por amigos do diretor. A película mostra um Almodóvar iniciante e, consequentemente, as falhas técnicas são notáveis (como a péssima resolução de imagem, erros de edição, câmera desfocada e trêmula), mas dão um ar divertido ao filme, justamente por se tratar de uma produção amadora e de pouca estrutura, com seus excessos, mas é humano, divertido e totalmente inovador para a época – e até para os tempos de hoje, se levarmos em consideração o fascismo existente em nossa sociedade.
Vale a pena observar a evolução de Pedro Almodóvar que, por sinal, é gritante, e, sobre o movimento, como diria a filósofa Simone De Beauvoir, “Toda a opressão cria um estado de guerra”. O protesto dos combatentes desta guerra foram os artistas, com as manifestações de artes e liberdade… A arte salva!