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Ao longo do tempo, o padrão de dominação masculina tem contribuído para a
reprodução de estereótipos do papel secundário e marginal da mulher na sociedade. Os
modelos tradicionais de relações de gênero colocaram as mulheres no papel de frágil e
submissa, e os homens de sexo forte, dominador e viril. É o domínio masculino que
prevalece no campo do discurso, da linguagem e na determinação das formas de estar e
ser mulher.
É um processo de imposição quase irresistível às mulheres, que se fortalece do
seu reconhecimento e aceitação. Como diz Bourdieu (1999, p. 07-08), é um processo
por excelência de subordinação, resultante daquilo que ele chama de violência
simbólica. Não uma violência física, mas uma violência subjetiva, suave, invisível às
suas próprias vítimas, que é exercida, principalmente, pelas vias simbólicas da
comunicação e do conhecimento e pela aceitação por elas mesmas da dominação
masculina. Essas relações desiguais fundadas nas diferenças entre os sexos e no modo
de dar significado às relações de poder é o que Scott (1990) define por gênero.
Esses padrões de gênero predominantes pensam e fazem do homem o mais forte,
o mais responsável, o mais inteligente e, por isso, o mais capacitado e habilitado para
funções ditas “superiores”, que se justificam pela condição e posição social que ocupam
no espaço público. À mulher, cabem as funções “inferiores”, reservadas ao espaço da
casa, como o cuidado com os filhos e o lar. Ao homem é destinada a conquista do
espaço público; à mulher, o espaço privado, dela por natureza. Sob essa perspectiva, o
homem é a figura de poder e a referência das relações sociais de submissão da mulher à
esfera privada. O homem viril, macho, forte e inflexível é construído socialmente, em
detrimento da mulher frágil, doce, delicada e flexível. O discurso predominante sobre os
modos de ser masculino e feminino é, pois, construído com a intenção de subordinar a
mulher e desvalorizar a esfera do feminino.
Essa visão é herança da sociedade patriarcal, onde o trabalho doméstico, de
domínio privado, era tarefa não só exclusiva, mas já naturalizada. A mulher, filha ou
esposa, não tinha controle do seu próprio corpo ou sua vida. Ao casar, seu corpo era
propriedade do marido, para seu desfrute e procriação dos filhos. É somente na
sociedade moderna urbana-industrial que o modelo masculino patriarcal é mais
amplamente questionado, em razão das transformações políticas, econômicas e sociais.
O trabalho fora de casa e a luta pela igualdade no âmbito da produção traduzem-se
em bandeiras de luta para a plena emancipação das mulheres trabalhadoras. As
mulheres pouco a pouco foram conquistando seus direitos civis e ocupando o espaço
público, antigo domínio dos homens. A emancipação feminina inverte os valores sociais
tradicionais e põe em cheque o papel do homem. A ascensão feminina ao espaço
público torna-se uma ameaça à identidade de macho dominador e a sua posição de
poder hegemônico é posta em questão.

Introdução da tese “A HERANÇA PATRIARCAL DE
DOMINAÇÃO MASCULINA EM
QUESTÃO” de Simone Cabral Marinho dos Santos.

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