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Movimento cinematográfico Nouvelle Vague

Final dos anos 1950, começo dos 1960, fim da Segunda Guerra, Guerra Fria, televisão no auge, comunismo na América. Momento de transição no mundo, redescobertas, uma época para criar e renovar. Neste contexto, nasceu o movimento cinematográfico Nouvelle Vague (batizado por Françoise Giraud, na revista L’Express), francesa “A Nova Onda”, traduzido ao pé da letra.

Com o interesse pela memória do cinema e uma proposta de filmes mais ousados e autorais, onde ocorre a valorização do diretor como o autor da obra cinematográfica. Foi uma nova forma de fazer e pensar cinema que, de fato, conquistou o objetivo de propor novas maneiras de produzir filmes. Filmes fluídos, narrativas não lineares, sem estruturas e fragmentados, cenas focando no psicológico, personagens com sentimentos explícitos, contraditórios, ambíguos, seres imperfeitos e sem caráter heroico, mais humanos e próximos da realidade. Mudanças da figura feminina, as protagonistas fogem do estereótipo das divas de Hollywood, o apelo é menos sexual e muito mais intelectual, a mulher desafiava o homem com uma espécie de sensualidade implícita.

Entre os recursos de linguagem adotados pela onda está a recorrente utilização de closes, cortes bruscos, montagem paralela, suspense, movimentos de câmera e câmera em movimento junto com as personagens. Também foi muito valorizada as referências e inspirações da literatura.

Sendo referência internacional, a Nouvelle Vague foi fonte de inspiração para movimentos cinematográficos em diversos outros países, como o Cinema Novo Alemão, cujos cineastas representantes foram Werner HerzogWim Wenders e Rainer Fassbinder. Na Inglaterra, houve o Free Cinema, com John Schlesinger e Lindsay Anderson como expoentes. No Brasil, o Cinema Novo, realizado por Glauber Rocha, fazendo jus à famosa frase do mesmo: “Uma Câmera na Mão e Uma Ideia na Cabeça”. Todas essas tendências tinham o mesmo objetivo: criar filmes inovadores e independentes, sendo os dois principais cineastas representantes e idealizadores do movimento Nouvelle Vague os franceses Jean-Luc Godard e François Truffaut.

Destacaremos aqui algumas das principais obras do movimento Nouvelle Vague:

Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima, Mon Amour, 1959), de Alain Resnais:

Filme com visual de documentário, sendo pioneiro no uso de cortes para mostrar cenas em flashback, mesclando com cenas da atualidade. Na história, uma atriz francesa casada (Emmanuelle Riva) veio de Paris para trabalhar no Japão em um filme sobre a paz. Ela tem um affair com um arquiteto japonês (Eiji Okada) também casado.

Acossado (À bout de souffle, 1960), de Jean-Luc Godard
Após roubar um carro em Marselha, Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo) viaja para Paris e persuade a relutante Patricia Franchisi (Jean Seberg), uma estudante americana com quem se envolveu, para escondê-lo até receber o dinheiro que lhe devem. Os protagonistas são acompanhados pelas câmeras em frequente movimento, caminhando pelas ruas da cidade luz.

 

 

Jules e Jim: Uma Mulher para Dois (Jules et Jim, 1961), de François Truffaut
Jules (Oskar Werner), um judeu-alemão tímido, e Jim (Henri Serre), um francês extrovertido, se tornam grandes amigos. Em uma viagem para uma ilha um pouco distante da Grécia, eles veem uma estátua com um sorriso sem igual e, quando voltam à Paris, conhecem Catherine (Jeane Moreau), que se parece com a escultura. Logo os três boêmios se tornam um trio inseparável. A mulher nesta obra desenvolvia uma postura oposta a de submissão. A equipe também era pequena, onde uma pessoa desenvolvia mais de uma função, devido aos custos. Por exemplo: o diretor François Truffaut também era o roteirista.

 

 

Uma Mulher É uma Mulher (Une Femme est Une Femm, 1961), de Jean-Luc Godard
Angela (Anna Karina) é uma dançarina de cabaré que deseja ter um filho, porém seu namorado Émile (Jean-Claude Brialy) não concorda. Assim, ela acaba procurando o amigo dele, Alfred (Jean-Paul Belmondo), para realizar seu desejo. Nessa obra a mulher que desafiava o homem com uma espécie de sensualidade implícita e de forma intelectual.

O Desprezo (Le mépris, 1963), de Jean-Luc Godard

Camille (Brigitte Bardot) começa a desprezar o marido Paul (Michel Piccoli), por acreditar que esse tentou vendê-la ao produtor Jeremy (Jack Palance). Nessa obra, é notável a utilização de closes, câmeras que acompanham as personagens e a sensualidade feminina.

 

Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups, 1959), de François Truffaut

Antes de ser diretor, François Truffaut era cinéfilo, criando um cineclube e, mais para frente, tornando-se crítico de cinema. Sua estreia como diretor ocorreu com este filme, um longa libertário que conta a estória de Antoine Doinel (Jean Pierre Léaud), jovem que passa a infância e a adolescência desorientado e, provavelmente por falta de afeto em todas as atmosferas de seu convívio, começa a cometer delitos e foge em busca de sua liberdade, saindo de casa e rebelando-se e levando uma vida desregrada.

Os Incompreendidos é um filme inteiramente feito com câmeras leves, que seguiam de perto os passos do jovem Antoine. Truffaut não é apenas o diretor como também o autor da obra, se inspirando em sua vida para criá-la; porém, não assinava a mesma como uma autobiografia e, quando questionado, o diretor afirmava: “se o jovem Antoine Doinel assemelhasse ao jovem turbulento que fui, seus pais não se pareceriam de modo algum com os meus”.

Com apelo muitas vezes focado na juventude e equipes pequenas – por conta dos baixos orçamentos –, indo contra o cinema comercial e a burguesia, mas acima de tudo valorizando a arte e idealizando a qualidade cinematográfica e do conteúdo em cena com um todo, a Nouvelle Vague atravessou fronteiras e foi um triunfo cinematográfico e influência mundial.

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