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O movimento cinematográfico brasileiro: Cinema Novo

Final da década de 1940, Itália pós-guerra. Devido à falta de orçamento e apoio dos estúdios, os cineastas realizaram seus filmes levando as câmeras para as ruas, ruas estas que eram as próprias locações de suas produções. As inspirações para as histórias vinham do próprio povo, pessoas comuns, anônimas, que se tornaram os artistas da filmografia deste período. Assim surgiu o “Neorrealismo Italiano”.

Década de 1950, França pós-guerra. Com a falta de recursos para fazer cinema, mas interesse pela arte em si e pela memória do cinema, a proposta dos franceses era de filmes mais ousados e autorais. Nas produções, há a valorização do diretor como o autor da obra cinematográfica. Nasce a “Nouvelle Vague” (Nova Onda, traduzido ao pé da letra), uma nova forma de fazer e pensar cinema.

Estes movimentos culturais e cinematográficos europeus possuíam o mesmo objetivo: criar filmes inovadores e independentes. E com sua força, influenciaram diretamente a nova onda cinematográfica brasileira: o “Cinema Novo”.

Na década de 1950, com o fracasso dos estúdios de cinema brasileiros, os cineastas lutaram e exigiram inovações na arte de fazer filmes. Começaram fugindo do cinema comercial, a fim de parar de copiar o modelo do cinema hollywoodiano, algo que contribuiu para o debate que seria a reforma cinematográfica da época, com a abertura do I Congresso Paulista de Cinema Brasileiro e o I Congresso Nacional do Cinema Brasileiro. O objetivo era discutir novas formas de fazer cinema, inspiradas nesses movimentos europeus, com a ideologia de mais realidade, mais conteúdo e menores custos nas obras.

Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça“, frase antológica de Glauber Rocha, grande diretor do período, simplifica e define a arte do movimento brasileiro. A falta de recursos foi deixada de lado e, de fato, tudo que eles tinham estava nas mãos dos realizadores. A situação deu espaço para a criatividade e inspirou roteiros que relatavam a realidade nacional, com liberdade aos diálogos regionais.

 

Nelson Pereira dos Santos, em 1955, inaugurou a filmografia do Cinema Novo ao dirigir Rio 40 Graus. De narrativa descomplicada, ambientada em cenários que condiziam e percorriam a cidade, o método simples serviu de inspiração para cineastas cariocas e baianos, que decidiram colocar tais características em prática.

Eis então a primeira fase do movimento Cinema Novo, com filmes que abordavam os problemas do subdesenvolvimento do país. Seus personagens eram trabalhadores rurais e sertanejos nordestinos. Ainda com o foco na realidade, as produções possuíam cenários simples ou naturais, imagens sem muito movimento e a presença de diálogos extensos entre os personagens, indo totalmente contra o cinema estadunidense.

Esta primeira fase foi de 1960 a 1964, representada por obras como Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e Os Fuzis (1963), de Ruy Guerra. Na segunda fase do movimento, que vai de 1964 até 1968, o foco ainda é a realidade atual do país e os temas abordados pelos cineastas são: a ditadura militar, a política e a economia brasileira. As obras mais memoráveis dessa segunda fase são O Desafio (1965), de Paulo Cezar SaraceniO Bravo Guerreiro (1968), de Gustavo Dahl, e Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha.

Na terceira e última fase do Cinema Novo, que se estendeu de 1968 a 1972, a quantidade de produções cai e é revelado o desgaste sofrido pelo movimento através da repressão e censura. A repressão militar atacou os cineastas, oprimindo-os e os perseguindo – alguns até fugiram do país –, e embora os antigos tentassem se adaptar às regras políticas, os mais jovens não aceitavam o novo cenário opressivo. As produções deste período são profundamente inspiradas pelo Tropicalismo, explorando o exotismo nacional com o uso de indígenas, araras e bananas, por exemplo.

A principal obra do período é Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, filme estrelado pelo Grande Otelo e baseado na obra-prima de Mário de Andrade. Da revolta cinematográfica jovem, surge o movimento sucessor: o “Cinema Marginal”. E das dores da repressão, as veias da arte sangram beleza e contam história não apenas dentro, mas fora das telas.

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